“Está proibido brincar”, diz um menino de oito anos ao seu vizinho. “Agora não dá mais pra jogar bola, só quando o vírus for embora”, responde o amigo. Quem imaginaria esse diálogo pouco mais de um mês atrás? Quem diria que pessoas no mundo inteiro seriam proibidas, pelo Estado, de sair às ruas? Que cenas de policiais tirando banhistas da praia e gente com máscara e luvas de borracha empurrando carrinhos de supermercados se tornaria algo comum?
A campanha do #ficaemcasa, encabeçada por autoridades de saúde de todos os países, é o remédio necessário para conter o aumento da transmissão do novo coronavírus. A população acima dos 60 anos, mais suscetível às complicações da covid-19, deve redobrar os cuidados com o isolamento social e as práticas de higiene que combatem a disseminação da doença.
Mas ser obrigado a ficar confinado, do dia para a noite, pode ser um imenso desafio para a saúde física e mental principalmente dos idosos. Para o terapeuta ocupacional Antônio Lucena, especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), é preciso ficar atento à tristeza e à depressão que o isolamento social pode causar. “Essa privação súbita pode ser muito difícil. De repente, você não pode ir mais ao mercado, trabalhar, conviver com os netos. A pandemia impõe novas restrições aos idosos, que já têm os desafios diários próprios da velhice. Oriento os familiares a telefonar ao longo do dia para seus pais e avós, deixar uma comida, fazer compras ou encontrar outras formas de estarem presente à distância”, aconselha o terapeuta.
Enquanto o necessário afastamento social durar, seguir uma rotina também ajuda a manter a sanidade mental, o bem-estar pessoal e a convivência com os companheiros de quarentena. “Ter horários para dormir, acordar e fazer refeições é importante para regular o organismo, pois o hábito faz parte da organização do ser humano. No entanto, deve haver flexibilidade para que isso não se torne uma pressão”, explica Antônio, que auxilia muitos pacientes a organizar o cotidiano de forma saudável e prazerosa.
Corpo em movimento
Dentro dessa rotina, movimentar o corpo também deve ser um compromisso. Como fazer isso sem sair de casa? Há diversas tarefas domésticas que podem ser executadas durante a quarentena: limpar guarda-roupas, separar itens para doação, varrer o quintal, cuidar do jardim, lavar o carro, fazer reparos em roupas, organizar fotos e documentos antigos. Com criatividade e disposição, a lista do que pode ser realizado para melhorar o ambiente doméstico pode ser infinita. Há quem já esteja preparando presentes feitos à mão para o Natal.
“É importante respeitar a autonomia e encorajar a independência das pessoas idosas durante o confinamento. Com a melhor das intenções, às vezes os filhos tentam impedir pais idosos de fazer coisas básicas do cotidiano por medo de quedas e machucados. Essa proteção excessiva pode estimular a disfuncionalidade e causar sérios danos. Obviamente é preciso tomar cuidados para prevenir acidentes e respeitar as limitações físicas de cada um, mas sempre estimular uma rotina de atividades e convívio ”, pontua o terapeuta.
Dicas para organizar a rotina
- Realizar os afazeres domésticos na parte da manhã, com um intervalo de descanso após o almoço e, na sequência, atividades mais recreativas.
- Incluir momentos para exercitar o prazer pela arte: ouvir músicas; ler livros, jornais ou revistas; assistir a filmes ou séries na TV.
- Organizar a casa de forma terapêutica. Vale arrumar armários, rever e arquivar fotos antigas, cuidar das plantas, limpar os livros do escritório.
- Fazer algum exercício físico. Pode ser alongamento, yoga, aulas de funcional acompanhadas pela internet, dança.
- Manter contatos com amigos e familiares, seja por ligações telefônicas, chamadas de vídeos, mensagens e até, por que não, cartas escritas à mão.
- Jogar cartas, dominó, baralho, jogos de tabuleiro, videogame.
- Dedicar alguns minutos para praticar a espiritualidade, seja de que crença for.
E você? O que tem feito de bom durante o isolamento social? Compartilhe com a gente nos comentários e deixe sua dica para manter o corpo e a mente saudável.
Lembramos que a Fundação apoia a campanha #ficaemcasa e celebra o esforço dos profissionais da área de saúde e de setores básicos da economia — como trabalhadores de transporte, supermercados, farmácias e abastecimento — que estão saindo de suas casas todos os dias para garantir a saúde e bem-estar de todos nós.
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