Ativistas ambientais comemoram a redução temporária de emissão de gases em todo mundo: a diminuição da produção industrial e da circulação de pessoas em automóveis em razão do isolamento social melhorou significativamente a qualidade do ar que respiramos. Mas quando a quarentena terminar (sim, ela vai terminar), voltaremos à programação normal? O que poderemos fazer de melhor para o planeta no futuro pós-coronavírus?
No meio da avalanche de informações sobre o coronavírus, a relação entre a pandemia e a saúde do planeta fica cada vez mais explícita. Evidências científicas sugerem uma grande probabilidade de que a transmissão da covid-19 para humanos tenha ocorrido a partir de um morcego num mercado de carnes na cidade de Wuhan, na China, onde animais silvestres também são comercializados. A doença seria, portanto, uma zoonose, enfermidade que se transmite de um animal não-humano para um humano.
Segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças da Organização das Nações Unidas (ONU), de cada quatro novas doenças virais que atingem humanos, três têm origem em animais. A Organização Mundial da Saúde e a ONU alertam que a produção em larga escala de animais, pela demanda do consumo desse tipo de proteína, é uma das maiores causas de surgimento de pandemias no mundo.
Esse vírus microscópico acaba apontando o dedo para nossas escolhas diárias. Do que estaremos dispostos a abrir mão em nome de um mundo mais saudável e equilibrado? O intelectual indígena Ailton Krenak, em seu livro Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, questiona o entendimento de desenvolvimento sustentável, perguntando o óbvio: o que é preciso sustentar? “Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso — enquanto seu lobo não vem —, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza”, afirma.
Em 2015, Bill Gates, especialista em inovação e tecnologia, falou sobre as lições aprendidas com o combate ao vírus Ebola, que matou mais de 11 mil pessoas em países do oeste da África nos dois anos anteriores. A palestra “A próxima pandemia? Não estamos prontos”, disponível online, aconteceu há 5 anos, mas cai como uma luva em 2020.
“De uma próxima vez, talvez não tenhamos tanta sorte. Pode haver um vírus que deixe o paciente aparentemente bem no estágio contagioso, a ponto de ele conseguir viajar de avião ou ir ao mercado. A fonte do vírus poderia ser uma epidemia natural como o Ebola, ou poderia ser bioterrorismo. Então, há coisas que poderiam tornar as coisas literalmente mil vezes piores”, afirmou no que hoje soa como uma futurologia acertada.
O coronavírus já matou mais de 490 mil pessoas entre dezembro do ano passado e junho deste ano. A pergunta que devemos nos repetir incessantemente é o que podemos aprender com tudo isso?
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